Os bate-bola
O carnaval de rua do Rio de Janeiro é um celeiro de criatividade. Longe do ambiente organizado das escolas de samba, um sem-número de tipos tradicionais faz da festa mais divertida do planeta, um mosaico de alegria – uma brincadeira informal que mobiliza milhares de foliões e torcedores.
Clóvis, ou bate-bola, é o nome de uma fantasia de carnaval característica das zonas oeste e norte da cidade do Rio de Janeiro.
A tradição foi trazida pelos colonizadores portugueses, tendo sido também influenciada pela Folia de Reis. Supõe-se que o nome tenha derivado do inglês clown, e que teria sido criado no início do século XX. Nos primórdios, a fantasia de clóvis se assemelhava muito à de palhaço, porém incluindo máscaras aterrorizantes.
A tradição encontrou terreno fértil no subúrbio do Rio, onde no início do século 20 matadouros forneciam as bexigas de bois para produzir as primeiras bolas para a brincadeira. Batendo no chão com suas bexigas de boi bastante fedorentas, presas por corda a uma vara ou cabo, os bate-bolas eram o terror da criançada.
Mas há tempos o universo dos bate-bolas deixou o mundo rural. Hoje em dia, as bexigas foram substituídas por bolas de borracha ou plástico, mas a atitude amedrontadora dos bate-bolas se mantém. A indumentária foi incorporando novas características e, atualmente, os grupos de clóvis podem ser classificadas em diversos tipos, tais como "bola-e-bandeira", "leque-e-sombrinha", "sombrinha-e-boneco", entre outros.
A maioria das turmas tem nomes ligados a sentimentos - Humildade, Emoção, Explosão, Alegria, etc. As turmas de bola-e-bandeira têm nomes como Zorra Total, Barulho, Agonia, Bombardeio, Abusados etc.
Na comunidade Asa Branca, existem dois grupos rivais de bate-bola – Atitude e Sensação. Durante todo o ano, esta rivalidade não existe. Os componentes dos dois grupos são amigos, trabalham juntos e convivem em harmonia, mas quando chega perto do Carnaval, os ânimos mudam e os dois grupos disputam as atenções da comunidade e o posto de melhor fantasia.
Cada participante chega a gastar R$ 2.000,00 em sua fantasia, sem nenhum tipo de subsídio. Os dois grupos possuem torcidas fiéis, quase fanáticas, que participam ativamente da disputa informal. A fidelidade ao grupo e aos ideais é de espantar, uma mostra concreta de que as tradições ainda desempenham um papel importante no cotidiano da região da zona oeste do Rio.
O Ecomuseu do Sertão Carioca vem acompanhando o trabalho destas turmas, documentando em vídeo e em fotografia esta cultura, patrimônio imaterial de nossa cidade.