A Folia de Reis do Morrinho da Alegria



O grupo de Folia Morrinho da Alegria é um grupo de cultura popular. Assim diz uma das marchinhas do grupo. Pois as atividades abriam o ano com a folia, vinha o carnaval, onde o bloco animava os carnavais das comunidades da Estrada do Pontal, como Morrinho (Caeté de dentro), Piabas, Cachorro Sentado e o Caeté (de fora) e por vezes indo até a Praia da Macumba.

Mais a frente, no meio do ano vinham as festas de caipira, também contando com as comunidades da região. E o agregador maior de tudo era o time de futebol que jogava durante o ano inteiro no domingo, com pelo menos duas excursões para jogar fora durante o ano, geralmente acompanhadas pela comunidade. Todas estas atividades tinham como organizador e idealizador o Sr Luiz Gonzaga, um dos membros mais antigos da comunidade, que era o diretor do bloco, organizador das festas, mestre da folia e técnico do time, entre outras atividades familiares e profissionais.

A Folia de Reis


A folia do morrinho nasceu de uma vontade saudosa do Sr Luiz que trouxe para a comunidade em fins dos anos 90, uma folia de Campo Grande que ele participava. O fato ficou nas bocas e memória do povo como uma cobrança.

O futebol era a porta de entrada para a comunidade, times de várias regiões se enfrentavam e confraternizavam todos finais de semana no antigo Campo do Vicente e os mais chegados iam para o Morrinho, onde após as partidas havia sempre uma comida, panelada ou churrasco e um batuque. Começando com o samba e o forró, terminando nos desafios de calango, repentes e músicas regionais, inclusive de folia quando próximo do fim do ano. Sempre ao som do cavaco ou da sanfona de Seu Luiz, o único que dominava um instrumento que não era de precursão. Paralelamente o Museu Casa do Pontal tinha um trabalho educacional voltado para as escolas, com músicos e atores, como Chico Lá (violão), Paulo Braga (viola caipira) e Marilena Farias (atriz, foi o palhaço da folia) e não foi difícil convence-los a conhecer e gostar desta comunidade extremamente festiva.

Com o falecimento do mestre da folia de Campo Grande, Sr Luiz me propõe fazermos uma folia nossa. Já havia brincado de palhaço de folia na juventude em Queimados, e amante dos versos aceitei na hora. O GRUPO DE FOLIA já tinha uma certa organização com calças brancas e camisas verdes com a sigla do grupo GFMA, usadas para o carnaval, os jovens da comunidade já tocavam a bateria do carnaval. Seu Luiz ensaiou as marchas e os cantos da folia, compus os versos do palhaço, foram feitos chapéus, coroas e o estandarte, Tudo com recursos adquiridos das rifas e vaquinhas que eram feitas em todos os encontros de batuques, ensaios e festas na comunidade. Essa verba comprava ainda os couros dos instrumentos.

Em janeiros de 2008 e 2009 a folia saiu pelas vielas da comunidade, tocado sua marcha, com palhaço espantando cachorros, fazendo brincadeiras e cantando em louvor aos três Reis magos, pedindo licença, entrando, rezando e no final cantando a despedida nas casas e quintais abertos do Morrinho. Naqueles dias eram todos uma família só que no final do cortejo comeu, bebeu, cantou e dançou na expressão máxima da palavra comunhão.

No ano de 2009 em 16 de setembro Sr Luiz faleceu, parecendo ter cumprido sua devoção aos Santos Reis, fazendo a sua última folia aqui na terra. As atividades estão paradas desde a sua morte, por falta de orientação e coincidências, pois as vezes que programamos novas atividades, foram marcadas com o falecimento de outros membros importantes da comunidade. Porém, foi plantada uma semente, que ainda vai brotar e dar muitos frutos.


“Foi embora Luiz” Sergio Santos 2009

“ Foi embora Luiz, foi embora, a sua missão foi cumprida,
Jesus tá chamando, chegou sua hora.
Você já levou sua folia e tocou seu cavaco pela rua a fora,
Agora chegou sua vez de cantar os seus versos pra nossa senhora.
O mestre já fez sua parte e a continuidade é pra quem ficou,
Que o mestre descansa contente, tocando sanfona pra Nosso Senhor”.



Sergio Santos é museólogo e restaurador de peças de arte popular, no Museu Casa do Pontal, e nos mandou este incrível relato para contribuir com o resgate das Folias de Reis do Sertão Carioca.

Contribua você também! 

Se houveram Folias em seu bairro ou na sua comunidade, envie seu relato e fotos para a equipe do Ecomuseu do Sertão Carioca (filmesdosertao@gmail.com). Nos ajude a resgatar a memória e as tradições populares da zona oeste do Rio.


Fotos da Folia do Morrinho da Alegria










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