O Sertão Carioca por Flávio Machado
Ocorre que, ao contrário do corrente no imaginário popular, a região não foi “descoberta” pelo Plano Lúcio Costa. Toda a região costeira, o complexo lagunar e as florestas das encostas dos Maciços da Pedra Branca e Tijuca já eram habitados há muitos séculos, talvez milênios. Primeiro por índios, que deixaram pinturas rupestres nas grutas do Morro do Rangel, sambaquis e urnas funerárias encontradas em Guaratiba.
Num segundo momento, a região foi tomada por engenhos de açúcar, fazendas de gado e café, das quais ainda encontramos construções relativamente preservadas.
Depois por escravos fugitivos, cuja memória e vestígios ainda podem ser encontrados nas comunidades remanescentes de quilombo do Cafundá Astrogilda, Camorim, da Marambaia e tantas outras ainda esquecidas ou em processo de reconhecimento.
Depois por escravos fugitivos, cuja memória e vestígios ainda podem ser encontrados nas comunidades remanescentes de quilombo do Cafundá Astrogilda, Camorim, da Marambaia e tantas outras ainda esquecidas ou em processo de reconhecimento.
São caboclos que aqui fizeram morada, vivendo da pesca (no caso dos caiçaras de Guaratiba) e da agricultura, “longe” da civilização da metrópole imperial até meados do século XX.
Algumas famílias de imigrantes portugueses também se dedicavam a produção de hortifrutigranjeiros e pequenos comércios, além de desenvolver uma arquitetura típica que encanta os visitantes.
Atualmente, toda a região enfrenta um grave problema: a gentrificação que, com a chegada de novos moradores, agrava a especulação imobiliária e expulsa os moradores tradicionais, destruindo a memória e o modo de vida de toda uma população.
Além disso, há o problema da degradação ambiental. A região já não suporta tanta gente. Apesar de contar com diversas unidades de proteção, não há rede de esgoto adequada, fazendo com que rios e lagoas recebam os efluentes de milhões de pessoas e das indústrias que se instalaram por aqui.
O resgate da história da região e seus costumes, a valorização da população tradicional e a criação de novas estratégias e negócios ligados à cultura e ao turismo, permitem o surgimento de novas oportunidades para os moradores de uma região que ainda mantém preservados traços peculiares da cultura cabocla carioca, com suas lendas e mistérios, onde ainda encontramos exemplares raros da fauna e flora original da Mata Atlântica.
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Flávio Machado é jornalista e possui vasta experiência na criação, formatação, roteirização e direção de programas de TV e documentários e publicitários (tendo recebido duas vezes o Prêmio Colunistas). Trabalhou nas TVs Globo, Manchete, Bandeirantes, Futura, MultiRio e TV Brasil (TVE), onde coordenou o Núcleo de Documentários e Programas Especiais de Jornalismo. Na área de programas educativos, já teve dois projetos indicados para o Prix Jeuneusse. Atua como documentarista e ministra oficinas de audiovisual em diversas instituições e universidades.
Este foi o último texto redigido pelo Flavinho antes de nos deixar. Um apaixonado pela nossa região, defensor das populações tradicionais e da preservação de nossos ecossistemas, sua luta nos orgulha e vai deixar muitas saudades. Obrigado por tudo, Flávio!
Equipe do projeto Sertão Carioca
Algumas famílias de imigrantes portugueses também se dedicavam a produção de hortifrutigranjeiros e pequenos comércios, além de desenvolver uma arquitetura típica que encanta os visitantes.
Atualmente, toda a região enfrenta um grave problema: a gentrificação que, com a chegada de novos moradores, agrava a especulação imobiliária e expulsa os moradores tradicionais, destruindo a memória e o modo de vida de toda uma população.
Além disso, há o problema da degradação ambiental. A região já não suporta tanta gente. Apesar de contar com diversas unidades de proteção, não há rede de esgoto adequada, fazendo com que rios e lagoas recebam os efluentes de milhões de pessoas e das indústrias que se instalaram por aqui.
O resgate da história da região e seus costumes, a valorização da população tradicional e a criação de novas estratégias e negócios ligados à cultura e ao turismo, permitem o surgimento de novas oportunidades para os moradores de uma região que ainda mantém preservados traços peculiares da cultura cabocla carioca, com suas lendas e mistérios, onde ainda encontramos exemplares raros da fauna e flora original da Mata Atlântica.
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Este foi o último texto redigido pelo Flavinho antes de nos deixar. Um apaixonado pela nossa região, defensor das populações tradicionais e da preservação de nossos ecossistemas, sua luta nos orgulha e vai deixar muitas saudades. Obrigado por tudo, Flávio!
Equipe do projeto Sertão Carioca