Quilombo Santa Justina Santa Izabel sob Repressão
Porteira de entrada do Quilombo bloqueada com pedras |
A equipe do Ecomuseu do Sertão Carioca foi convidada pelo Renato de Jesus Victor para conhecer o Quilombo Santa Justina Santa Izabel, localizado em Mangaratiba, Rio de Janeiro, na ocasião do 1° Encontro de Mulheres Quilombolas. Nos deparamos com uma comunidade de riquíssimas tradições culturais, e que mesmo Certificada pela Fundação Palmares sofre ameaças graves e constantes de grupos econômicos locais. Como se pode verificar no depoimento da quilombola Iossana Concule:
Os Quilombolas que tiram seu sustento da terra, vendem seus produtos
em feiras fora da comunidade, pois, é proibida a entrada de parentes, amigos e principalmente de pessoas que queiram comercializar diretamente as
mercadorias produzidas pelos quilombolas. Além disso, os capangas tem ordem do que se diz administrador de cobrarem 10% da banana colhida e vendida pela comunidade sob pena de não autorizar entrada do caminhão para o transporte da carga. Ao retornarem da cidade os moradores muitas vezes são barrados na entrada do Quilombo e até mesmo tem suas bolsas de compras revistadas, isso quando não abrem os porta-malas dos humildes carros que servem como transportes dos mesmos. Segundo relatos, algumas famílias já foram ameaçadas por arma de fogo ao resistir as arbitragens dos tiranos. Tal fato foi registrado na delegacia da cidade 165ª DP e denunciado também ao MPF de Angra dos Reis.
Segundo o relato de Ingrid Pena (Mestra em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas (UFRRJ), Especialista em Gestão Ambiental (UFRJ & Instituto PNUMA Brasil), Turismóloga (UNIRIO) e Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas (UFRJ), que acompanhou nossa equipe:
Para o processo de certificação do quilombo - iniciado em 2013 e finalizado em 2016 -, os dados necessários foram levantados e sistematizados pela historiadora Mirian Bondim, que comprova a permanência de mais de 50 famílias nesse território há várias gerações. A área, que já abarcou as antigas Fazendas de Santa Izabel e de Santa Justina (um grande engenho de cachaça e fazenda de café), a Indústria de Doces Santa Justina Ltda. (produtora de leite, manteiga, queijo e da bananada Tita), a antiga usina da Empresa de Luz e Força de Mangaratiba Ltda, além de abranger parte da Estrada Real, foi e é morada dos trabalhadores desses empreendimentos e de suas famílias, que tem a sua dinâmica de vida, e na maior parte das vezes, a sua fonte de renda e alimentação associado à terra. O reconhecimento do laço histórico dessa comunidade com a terra e seu valor sócio/étnico garante o os seus direitos aos recursos locais. Amplia às suas potencialidades, mas também seus desafios.
A área, emblematicamente situada ao lado do Condomínio Portobello e na base da Serra do Piloto, já foi “propriedade” de poderosos políticos e empresários (ainda hoje, mesmo com a certidão da Fundação Palmares, não foi feita a regularização fundiária, o que é a realidade da maioria dos quilombos do país); É atualmente “propriedade” da empresa Ecoinvest Desenvolvimento Empresarial Ltda., que mantém a área sob vigilância através de uma “porteira”, controlando a entrada e saída de moradores e impedindo a entrada de visitantes, inclusive de atendentes de serviços público.
Houve o impedimento da entrada de alguns carros e mesmo com essa situação, foi uma celebração bonita, emocionante e importante para “os de fora”, e em especial para “os de dentro”, que estão se reunindo, se (re)conhecendo, e entendendo cada vez mais o valor de sua resistência e de sua história para uma sociedade que precisa urgentemente de novas referências para novos caminhos de desenvolvimento.
De acordo com o advogado do Quilombo, Dr Ivan Braga:
Os representantes do Quilombo pedem apoio através da divulgação das denúncias. Caso queiram saber mais:
Seguem algumas fotos feitas em campo pela documentarista Rosa Bernardes:
Casa da Dona Glorinha |
Casa de Farinha |
Fogão a Lenha |
Banana Orgânica |
Refeição Caseira |
Família da Simone, Quilombola |
Pé de Moleque |
Doce de Mamão Verde |
tronco onde os escravos eram castigados |