A Capela de Vargem Grande
Poucos registros existem sobre a historia da antiga capela de São Sebastião em Vargem Grande. Algumas lembranças sobrevivem em minha memória dos idos tempos que a conheci.
A singela capelinha ficava no Largo de Vargem Grande na esquina da estrada do Pacuí com Estrada dos Bandeirantes. Apesar da região das Vargens (Grande e Pequena) ser administrada em seus primórdios pelos monges beneditinos, curiosamente foi construída pelos Jesuítas em 1827.
No lado direito de quem entrava na capela existia fincada no quintal uma grande cruz de madeira com os dizeres “Santas Missões” e o ano da sua fundação. Tal monumento estava sempre cercado de vegetação nativa e muitas velas acesas em sua base pelos fiéis, católicos e provavelmente também pelos de outras crenças que viam naquele “cruzeiro” um ponto de força para suas preces e oferendas.
Sóbria arquitetura, pequenina no tamanho, mas espiritualmente bastante expressiva e acolhedora. Caiada de branco por fora, paredes bem largas feita de pedras e tijolos maciços. Decoração toda artesanal. Em seu interior haviam belos afrescos, castiçais, poucos e rústicos bancos de madeira, altar entalhado (naqueles tempos o padre celebrava a Missa de costas para o publico). Na parte da frente da Igreja, em sua lateral esquerda, havia uma espécie de "coretinho" usado nas festividades religiosas.
A ordem da sua arbitrária demolição nos anos 1980 (que eu saiba ninguém na região foi consultado), partiu de um padre italiano, responsável pela paróquia, alegando precário estado de conservação do imóvel. Creio que ao contrario da sua lamentável atitude, deveria ter mobilizado recursos para restaurar e preservar tão importante patrimônio histórico. Independente dos aspectos religiosos envolvidos, certamente se esta igrejinha ainda existisse hoje, seria mais um interessantíssimo ponto turístico a ser visitado na Zona Oeste carioca.
Cheguei a conhecer a pessoa que foi incumbida de literalmente demolir a capela. Chamava-se “Lourival”, típico carioca dos tempos da “pilantragem”. Ostentava um exótico cabelo “black-power na cor caju” e dizia ter tocado percussão na banda do Wilson Simonal. Certa vez em papo informal com ele , fiquei sabendo do susto que levou com alguns fenômenos que na ocasião ocorreram no interior da capela e como quase morreu com o repentino desabamento de parte do teto que caiu justamente em cima dele quando começou a demolição....achava que aquilo era um sinal de “castigo”, e acabou largando o serviço inacabado, passando a infeliz tarefa para outro.
Tanto o local como a igreja que foi construída para substituir a que foi demolida em nada lembra a antiga e saudosa capelinha .
No sincretismo religioso brasileiro, São Sebastião é “Oxóssi”, o senhor das matas. Como padroeiro de todo Rio de Janeiro e especificamente de Vargem Grande, que ele nos inspire e ajude a proteger as montanhas, fauna, flora, rios, nascentes, cachoeiras e os demais patrimônios naturais e culturais existentes na região.
Amém!
texto: Sergio de Carvalho
foto: acervo pessoal