O Comércio do Dingo
Quando conheci Vargem Grande no inicio dos anos 1970 o ponto final do ônibus 747 (Madureira/ Vargem Grande) ficava numa bucólica esquina formada pela Estrada do Morgado com a Estrada dos Bandeirantes, aqui ilustrado numa foto raríssima.
No local havia o chamado “comércio do Dingo” unindo mercearia, bar, armarinho e barbeiro numa mesma construção.
O modesto e simpático lugar possuía paredes de tijolo maciço caiadas de branco, portas artesanais de madeira de lei pintadas de azul colonial e todo coberto por rusticas telhas de barro de confecção atribuída aos escravos.
Era o ponto de encontro dos produtores rurais da região que ali paravam com suas tropas de burros e mulas carregados de bananas e outras mercadorias agrícolas. Aquele trecho da Estrada dos Bandeirantes ainda era de terra e com pouquíssimo transito de carros. Bastava cair a noite para o lugar ficar completamente deserto.
Infelizmente o imóvel não foi preservado. Existe agora no local um condomínio de casas e do outro lado da rua, onde haviam as plantações, foi construído o Templo Budista Tibetano.
Entre outras tantas curiosidades típicas daqueles tempos, cheguei a ouvir muitos “causos estranhos” ocorridos na localidade, onde alguns nativos juravam ter presenciado fenômenos intrigantes como aparições de OVNIS e espíritos que por ali surgiam com certa freqüência. Seja como for, ainda hoje o lugar é cercado de lendas e mistérios.
Em suas redondezas se instalaram Ordens Esotéricas, Centros Espíritas e afins. Além da resistente presença de alguns herdeiros dos antigos moradores, a região foi gradualmente sendo habitada e frequentada por "gente exótica" de fora: místicos, filósofos, artistas, ecologistas, yogues, terapeutas holísticos, surfistas, biólogos, vegetarianos, alternativos, bichos-grilos e demais pessoas sintonizadas com algum "jeito diferente" de ser.
Visite e confira!
texto: Sergio de Carvalho
foto: acervo pessoal
Depoimento de Renato Rocha
Freqüentei muito esse comércio, cortava o cabelo com Baiano (era como chamava o barbeiro). Esse carro estacionado era do seu Agostinho, que abastecia os armazéns com balas, doces e biscoitos. Todas as segundas feiras ele vinha abastecer o comércio jogava balas para as crianças que ficava esperando seu Agostinho passar e eu era uma dessas crianças. Também tinha o armarinho do seu Carlos e Cremildo que mas tarde passou para a loja onde hoje é a farmácia do largo de Vargem Grande. Na enchente de 67 qdo derrubou a ponte sobre o rio Paineiras, os ônibus passou a fazer ponto final no largo e o Dingo, como era chamado esse comércio aos poucos foi falindo até fechar tudo e ficar abandonado e virar ruínas.