Arthur Bispo do Rosário


Do sertão de Japaratuba, no interior do estado de Sergipe, ao sertão carioca. Esta foi a jornada de um dos mais ilustres moradores da baixada de Jacarepaguá, o Bispo, como ficou conhecido o interno da Colônia Juliano Moreira que se revelou um dos maiores artistas brasileiros.

Programa imperdível para conhecer a obra e a genialidade deste artista é a exposição Um Canto, Dois Sertões: Bispo do Rosário e os 90 Anos da Colônia Juliano Moreira que está em cartaz até outubro no Museu Bispo do Rosário, localizado dentro da Colônia. Uma oportunidade rara de vivenciar in loco um importante pedaço da história do sertão carioca.

O Bispo

O passado de Arthur Bispo do Rosário é muito pouco conhecido. Sabe-se que foi marinheiro, pugilista, lavador de ônibus e guarda-costas. Com diagnóstico de paranóico-esquizofrênico, entre muitas permanências e saídas, a partir de 1964 vive mais de 40 anos na Colonia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, onde executou a maior parte de sua obra.


Certa vez Bispo vai preso por três meses, em uma das celas do Pavilhão 10 do Núcleo Ulisses Vianna, por ter errado a dose no uso da força ao conter um paciente. Ao sair do confinamento, relata que “ouviu vozes que lhe diziam que chegara a hora de representar todas as coisas existentes na Terra para a apresentação no dia do juízo final”.

Decide, por sua conta, trancar-se por sete anos numa das celas para, com agulha e linha, bordar a escrita de seus estandartes e fragmentos de tecido. As linhas azuis, desfiava dos velhos uniformes dos internos, e objetos tais como canecas, pedaços de madeiras, arame, vassoura, papelão, fios de varal, garrafas e materiais diversos, obtinha em refugos na Colônia.

Após 18 anos da revelação de sua missão, Bispo desperta o interesse da mídia e de críticos de arte, o que leva, em 1982, a expor pela primeira vez seus quinze estandartes na mostra “Margem da Vida”, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Após o sucesso da sua participação, recebe vários convites para novas mostras. No entanto, a coletiva foi a única exposição que ele integrou em vida. Bispo não aceitava se separar de sua obra e não se considerava artista. Para ele, tudo era fruto de uma missão que um dia seria revelada no dia do juízo final.

Dizia-se um escolhido do todo-poderoso, encarregado de reproduzir o mundo em miniaturas. Eram suas “representações”, afirmava. Paradoxalmente, as obras, que deveriam representar tudo o que havia na Terra acabariam reconhecidas como peças de vanguarda, incluídas por críticos em importantes movimentos artísticos. Sua arte genial chegou a representar o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, além de correr museus pelo mundo, a exemplo do Jeu de Paume, em Paris. Curiosamente, em vida, Bispo recusava o rótulo de “artista”, dado o caráter divino de sua tarefa. Mas a potência de sua obra ignora limites e até hoje atravessa fronteiras, transgredindo convenções e levando espectadores de todo o mundo ao encantamento

Arthur Bispo do Rosário, que carregava todos os estigmas de marginalização social ainda vigentes em nossa sociedade – negro, pobre, louco, asilado em um manicômio – consegue, na sua genialidade, subverter a lógica excludente propondo, a partir da sua obra, a ressignificação do universo, para ser reunido e apresentado no dia do juízo final. Sua missão chegou ao fim aos 80 anos, no dia 5 julho de 1989, dia da sua morte.

Fonte: Site do Museu Bispo do Rosário
Foto: Walter Firmo

SERVIÇO
Um Canto, Dois Sertões: Bispo do Rosário e os 90 Anos da Colônia Juliano Moreira
Quando: de 28 de março a 3 de outubro de 2015. De terça a domingo, de 10h às 17h.
Onde: Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea - Estrada Rodrigues Caldas, 3400 (Colônia Juliano Moreira), Jacarepaguá.
Entrada gratuita.
Mais informacões: (21) 3432-2402.




Fotos: Google


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