O Sertão Carioca por Sergio de Carvalho
DIVULGAR...OU NÃO DIVULGAR...EIS A QUESTÃO?
Esse questionamento surgiu para cutucar meu discernimento, quando tempos atrás fui guia de caminhadas ecológicas em Vargem Grande, função esta que desempenhava exclusivamente por amor a natureza e nada cobrava dos participantes a não ser respeito aos locais visitados.
Movido por ideais humanitários e ecológicos, resolvi disponibilizar todo meu conhecimento adquirido em décadas de pesquisas e descobertas sobre as melhores e mais preservadas cachoeiras e recantos naturais deste abençoado cantinho verde do Rio de Janeiro.
O convite para estes passeios era publico, portanto aberto indiscriminadamente a todos que quisessem participar. O grupo começou pequeno e foi gradualmente aumentando a cada nova trilha anunciada.
Alguns participantes tinham plena consciência da importância de manterem intactos os lugares visitados, outros nem tanto.
Os problemas começaram a surgir quando a divulgação aumentou e pessoas inescrupulosas passaram a frequentar estes locais sagrados. Simultaneamente o lixo começou aparecer (sacos plásticos, garrafas pet, embalagens de biscoito, guimbas de cigarro, latinhas de cerveja, cacos de vidro, despachos e resíduos das temíveis churrascadas que podem causar queimadas arrasadoras nas matas).
E o que dizer dos indivíduos que tomam banho na cachoeira com shampoo e sabonete, picham as pedras , arrancam as plantas nativas, aprisionam ou matam os animais silvestres?
Em função de tudo isso com grande tristeza acabei me convencendo que aquela atividade de lazer ecológico de caráter publico, por mais bem intencionada que fosse, estava gerando mais prejuízos do que benefícios a natureza local e acabei suspendendo parcialmente a programação.
É deveras lamentável concluir que nem todos estão preparados para terem acesso a estes locais. Nem todos conseguem conviver com a natureza sem destruir. Além do cruel impacto sobre a fauna e flora do maciço da Pedra Branca, o sinal vermelho também esta ligado no litoral, alertando para a crescente poluição de algumas das nossas mais preservadas praias (secreto, perigoso, tartaruga, praia do meio e praia funda). Esse tem sido o preço que se paga pela intensa e indiscriminada divulgação na mídia destes locais.
Não sou a favor de fechar ou proibir totalmente o acesso a estes lugares especiais (Certamente existem muitas pessoas que merecem conhecer ao vivo estas maravilhas naturais da região), nem tão pouco em liberar geral, mas sim de estabelecer critérios e condições conservacionistas para os frequentadores.
Enquanto não forem realizados trabalhos de conscientização de forma séria e constante seja por voluntários ou pelos órgãos públicos responsáveis, o futuro destes paraísos da zona oeste é incerto, correndo sérios riscos de uma progressiva degradação.
A preservação da natureza, não é apenas uma questão romântica de idealistas, sonhadores e apaixonados, mas sim científica, biológica e espiritual que envolve a própria sobrevivência da humanidade neste planeta. A vida selvagem clama nos oceanos e florestas.
Não joguem lixo na nossa casa e recolham os que nela encontrarem.
“Da natureza nada se tira além de fotos,
“Da natureza nada se tira além de fotos,
nada se deixa além de pegadas
e nada se leva além de lembranças.”
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Sergio de Carvalho mora em Vargem Grande desde a década de 70, e desenvolve um valoroso trabalho de preservação da natureza e da história do bairro. Formado em Belas Artes pela UFRJ, Sergio é dono do Espaço Néctar, um importante polo de produção musical de toda a região de Jacarepaguá.
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Sergio de Carvalho mora em Vargem Grande desde a década de 70, e desenvolve um valoroso trabalho de preservação da natureza e da história do bairro. Formado em Belas Artes pela UFRJ, Sergio é dono do Espaço Néctar, um importante polo de produção musical de toda a região de Jacarepaguá.